quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Escola Secundária de Monserrate

Uma Metáfora da Vida



Estabeleceu-se, desde logo, entre docentes e discentes, uma relação empática, talvez decorrente do studium, das afinidades entre os universos culturais expostos e as nossas memórias. A impressividade dos momentos visuais vividos constituem ainda um amplo repositório onde constantemente regressámos para estabelecer e repensar as fontes ideológicas pessoais. E é nesses momentos, introspectivos, que revemos inúmeras figuras recortadas em cenários poderosos, sugestivos e diversos, e que fazem parte da nossa iconologia cultural. Essas figuras são semelhantes às das fotos e documentos que nos rodeiam. Por isso e porque no acto de desenhar, criar, recorremos frequentemente, a citações e colagens a partir de imagens publicadas nos meios e comunicação de massas, propusemo-nos alterar a vertente estética da Escola Secundária de Monserrate, criando, para cada espaço especifico, painéis em azulejo. Obviamente que a escolha não foi nada fácil, dada a qualidade e quantidade de fotografias a examinar.
Reside nisto, nesta capacidade de prender e exigir compartilha, o reflexo dos valores ontológicos questionados pela consciência de Ser: é que uma imagem para além da leitura denotativa implica sempre conotações valorativas e simbólicas que ultrapassam a simples fenomenologia da forma. A visão humana descobre sempre algo mais para além da matéria. Necessita de mitos. E de ritos.
Ora, foi este algo mais que os alunos foram buscar às suas referências pessoais. A intertextualização criará novos contextos formais estruturais e simbólicos, mas sem negar o referente. Este funcionará como ponto de partida para outras aportações, possibilitando outras experiências estéticas e outros conhecimentos. Porque diferentes.
As vivências juvenis projectadas a partir das presenças físicas dos concidadãos e através da iconicidade corpórea e de adereços com que se apresentavam, tornaram-se num referente imagético armazenado e sempre pronto a ser evocado pelos alunos em situações que requeiram da sua parte o ter que assumir a sua atitude no que diz respeito à problemática sócio-filosófica, ideológica-cultural.
E o resultado é: procuraram descer ao âmago de cada uma das personagens na tentativa de desnudar aquilo que nelas há de universal e disso fazer testemunho: a pintura .
É esta prática da alteridade, o tentar por cá fora o outro, o gémeo, aquele que está do outro lado, do lado do imaginário, das lendas, dos contos. Para eles a máquina pictórica está sempre aparelhada e pronta a disparar. Há que eternizá-los. Pinta-se, com toda a ideologia que se tem. Isto é: quem pinta, retrata-se, os olhos são a câmara. O valor na arte, não pode ser apenas medido a partir de um ponto de vista estético, mas pela intensidade humana e social da sua representação óptica.
Se a pintura em si, é já uma espécie de morte do instante, porque fixa os objectos no tempo, transmite intrinsecamente a ideia de morte. No entanto, e paradoxalmente, celebra a própria vida, contida naquele mesmo instante e torna possível revê-lo.
A vida e morte fazem parte da essência do ser humano. Logo, as figuras recriadas pelos discentes, as suas personagens, índices de tomadas da realidade, carregadas de leituras simbólicas, assumem a qualidade de ícones por remeterem para acordos culturais amplamente codificados.
Já afirmamos que a iconologia de vida e da morte está sistematicamente patente nos trabalhos de pintura. De uma forma implícita quase sempre, outras vezes contundentemente, através de referentes ou adereços que funcionam como marcadores simbólicos e de valores culturais.
Reside aqui a razão temática desta resenha teórica e do trabalho prático que terá que se justificar por ele próprio.
As figuras de pintura, para além do esmero técnico e do requinte plástico composicional, conotam um lirismo que, por vezes atinge a transcendência espiritual. Nelas o invisível torna-se visível, através de uma iconicidade que capta a dimensão do ser humano, utilizando referentes materialmente tão simples, espiritualmente tão ricos, enormes na dignidade. E se o pathos lá está, carregado de referencias nostálgicas. Se cada figura é um momento mori por participar na mortalidade imposta pela dissolução do tempo (cada instante é sempre passado). Por outro lado, o eros vivificante também está presente naquele pequeno objecto que pode ser conservado e olhado repetidamente. A pintura testemunha assim este momento privilegiado, que, paradoxalmente, foi, mas também é, porque nós o sentimos recuando no tempo, em simulacro como num jogo.
Metáforas da vida, metáforas da morte.
O desenho é um pedaço de vida. Quem desenha, desenha-se. Conhece-se. Afinal as coisas existem porque existem e porque temos consciência delas.
O desenho procede de uma necessidade humana interior primigénia, de gravar as experiências mais importantes e motivadoras da vida. Serve ainda para clarificar a percepção visual. Como meio pelo qual podemos participar com alguma autoridade da vida das coisas.


Painel em azulejo


Título:Sentidos

Dimensões: 220cm x 1140cm

Ano lectivo:2007/2008

Turmas:12ºJ e 10ºL

Coordenação: Nuno Mendanha










Painel em azulejo


Título:Doloroso nascimento de uma primeira palavra

Dimensões: 345cm x 620cm

Ano lectivo:2007/2008

Turmas:12ºJ e 10ºL

Coordenação: Nuno Mendanha



Painel em azulejo


Título:Antropometria

Dimensões: 345cm x 620cm

Ano lectivo:2007/2008

Turmas:12ºJ e 10ºL

Coordenação: Nuno Mendanha


3 comentários:

Tânia Rocha disse...

Andava eu por aqui a "surfar" neste mundo imenso que é a internet e venho encontrar estas magníficas obras de arte!!
Muito feliz pelo nosso trabalho e nostalgica ao recordar todo o projecto.
Os meus parabéns ao professor, que sem ele nada disto teria vida e seria imortal, mas também a todos os meus colegas.
um beijinho grande a todos!

"a procurar um lugar ao sol"

Tânia Rocha 12º J- Escola Secundária de Monserrate 2007/2008

TS disse...

Foram sem duvida os nossos primeiros trabalhos a serio :D
Muito bons mesmo!
talvez para o ano como o sor diz..
talvez para o ano nos encontremos de novo :D
beijinho


Tânia Lima 10º L- Escola Secundária de Monserrate 2007/2008

paula cruz disse...

É tão reconfortante saber que a ESM continua "viva".
Parabéns pelo bom trabalho.